segunda-feira, 2 de março de 2015

O sexto ano em uma escola Waldorf*


Entre o décimo e o décimo primeiro ano de vida as características mais imaginativas do pensar passam por uma metamorfose e reemergem como a habilidade de formar conceitos abstratos. Previamente o pensamento acontecia mais em termos pictóricos que conceituais. Ou seja, o pensamento passa a se originar da imaginação da criança e da ênfase dada aos seus poderes imaginativos no currículo do ensino fundamental I. Pois ao invés de forçar a capacidade de pensar prematuramente, as escolas Waldorf se baseiam em um amadurecimento progressivo. Assim, o pensar que surge de uma imaginação saudável e madura é flexível e caloroso e fruto das imagens vivas do mundo que foram apresentadas à criança. Afinal, nesta idade as crianças já acordaram, com entusiasmo, para o mundo ao redor, e o currículo do sexto ao nono ano é formulado para prover experiências que se encaixem na sua nova habilidade e forma de pensar.

As crianças de doze anos começam a ter novas sensações de peso e gravidade em seus corpos, tornam-se mais conscientes da sua fisicalidade e precisam sentir que pisam firme na terra. Sentem-se curiosos quanto a causa e efeito e esperam respostas diretas às suas indagações e observações. O mundo, para uma criança do sexto ano, é delineado em termos absolutos entre o que é certo e errado. E, a medida que se aterram em quem realmente são, começam a olhar para o mundo a fim de ver o que o mundo pede deles.

De fato, segundo Rudolf Steiner, é apenas aos doze anos que a criança consegue compreender causa e efeito, o que abre novas possibilidades de currículo para o sexto ano em diante. Segue, abaixo, um resumo dos componentes curriculares no 6º ano.

Geologia: o aumento da consciência corporal faz com que seja um ótimo momento para estudar o “corpo” da Terra. Os alunos estudam formações rochosas e as forças que mudam e moldam a superfície terrestre.

Astronomia: depois de dar atenção à Terra, os alunos estudam os corpos celestes, onde focam na relação entre a Terra, os outros planetas e as estrelas. Essa abordagem geocêntrica, como tinham os primeiros astrônomos, é adequada às percepções dessa idade; apenas mais tarde eles descobrirão a visão heliocêntrica.

Física: nessa disciplina se dá início às ciências laboratoriais. As ciências, nas escolas Waldorf, são sempre baseadas no estudo de fenômenos. Assim, os estudantes podem observar experiências de acústica, ótica, calor, magnetismo e eletricidade estática, descobrindo as leis que regem o mundo natural. O estudo da acústica, por exemplo, vai da familiaridade com a voz até sons de outra natureza. Os sons musicais são utilizados em experiências sobre harmonia e também expressadas e estudadas por meio das frações matemáticas que representam. O estudo do som é relacionado, ainda, ao funcionamento da laringe e do ouvido. O estudo da ótica, como outro exemplo, traz aos alunos a observação da beleza das cores, da luz e da sombra e o estudo das lentes. Em suma, os princípios da física são apreendidos por meio de experiências concretas ao invés de serem apresentadas teoricamente antes dos experimentos em si.

História: a nova habilidade de compreender causa e efeito é potencializada por meio do estudo do declínio da Grécia e da ascensão e queda de Roma e seu efeito na Europa ao longo da Idade Média. É inspirador o espírito de conquista da civilização romana e sua capacidade de dominar e transformar o mundo por meio da construção de pontes, estradas, prédios e aquedutos; por outro lado a história também traz um componente de cautela quanto às igualmente importantes consequências dos excessos cometidos durante o período romano.

Matemática: nessa disciplina as formas geométricas não são mais desenhadas à mão livre, mas construídas cuidadosamente com uso do compasso e da régua. As famílias de figuras geométricas são classificadas e estudadas por meio das leis matemáticas que incorporam. São introduzidas, ainda, formulas de cálculo de perímetro. Mais adiante os estudantes podem entrar no mundo da economia ao estudar porcentagens, juros, e outros aspectos da matemática financeira.

Geografia: aqui se estuda as configurações e contrastes da Terra, como a distribuição dos oceanos, mares, continentes e montanhas. Há uma introdução a questões climáticas conforme aplicadas, principalmente, aos continentes europeu e africano. O estudo da geografia europeia é feito de forma a complementar os estudos de história.

Botânica: continua por meio da horticultura.

Artes e trabalhos manuais: desenhos em preto e branco; luz e sombra; paisagens e contrastes de cor na pintura. Nos trabalhos manuais as crianças costuram bichos de tecido preenchido e esculpem madeira para fazer um animal e uma colher, desenvolvendo a habilidade com ferramentas.

Música: no canto, o enfoque é na música romana e dos menestréis da idade média.

Português e literatura: gramática e composição de textos, ortografia, leitura, redação, produção de relatórios, teatro e poesia. Na literatura, podem ser utilizados textos sobre Troia, Roma, as Cruzadas, a sociedade islâmica, a sociedade medieval, entre outros. De forma geral continuar o que foi iniciado no quinto ano e ensinar, de maneira fortemente estilística, um sentimento para orações conjuntivas, para que um forte sentimento dessa plástica interior da língua passe a permear o sentir a língua. A redação de cartas deve passar para redações comerciais simples e claras. Conteúdo narrativo: cenas da história moderna.

Línguas estrangeiras: leitura de textos simples, histórias de humor e tradução livre.

Euritmia: energia interpretativa, emocional e espiritual expressadas por meio do movimento.

Educação física: neste ano o aluno poderá praticar uma série de esportes, a depender de cada escola, tais como vôlei, basquete, queimado, hóquei, etc. Muitas escolas também realizam um mini-torneio de jogos medievais.

*Texto traduzido, adaptado e compilado dos sites abaixo:
Shining Mountain Waldorf School


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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A criança de dez anos: uma visão antroposófica (*)


É preciso começar dizendo que cada criança é um indivíduo, e que cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. Entretanto, há alguns pontos em comuns a cada idade que podem ser úteis aos pais. Aqui irei destacar, entre outros, alguns dos pontos ressaltados pelo livro “Your Ten to Fourteen-Year-Old”, de Louise Bates Ames, Frances Ilg e Sidney Baker.

Uma das características marcantes das crianças de dez anos é o amor pela família e pela vida em família. Mesmo com alguns momentos em que agem de forma grosseira com os pais, a maioria das crianças desta idade realmente ama, respeita e admira os pais e as atividades e passeios em família. Também adora brincar na sua vizinhança e às vezes até se dá bem com seus irmãos (às vezes não!).

De fato, muitos pais perguntam como é a vida após a grande mudança de desenvolvimento que acontece por volta dos nove anos, o chamado “rubicão”. Acredito que uma das maiores mudanças é que, aos dez anos, a mãe mais uma vez torna-se o centro do universo. Tenho visto com os meus próprios filhos que nesta idade aumentam bastante as solicitações de sentar no colo, ser abraçados e estar perto. O pai também tem um papel importante, já que nesta idade as crianças adoram fazer atividades com ele! Por outro lado, as relações com os irmãos de seis a nove anos podem ser turbulentas.

As crianças de dez anos também amam estar com seus amigos e gostam de ter um(a) melhor amigo(a). Os meninos geralmente formam grupos maiores para brincar do que as meninas.

As crianças desta idade tendem a se mostrar mais felizes que aos nove anos, apesar de ocasionais “estouros” de raiva. A palavra “ocasional” é chave, pois os dez anos geralmente são uma idade feliz. Quando provocadas e com raiva, as crianças de dez anos podem ter uma reação imediata e violenta. Podem bater os pés, gritar ou sair do recinto. Segundo o livro citado, “Respostas meramente verbais também ocorrem, porém menos que nos anos seguintes. Apesar de verbais, as respostas são mesmo assim violentas. As crianças de dez anos gritam, guincham, chamam nomes...”.

As crianças de dez anos geralmente respeitam os professores e trabalham duro na escola. Possuem interesses variados e são muito ativas. Preferem o movimento livre do que a conformação às regras de esportes específicos. Nesta idade, coleções, montagem de modelos, costura, culinária, desenho e leitura são populares.

Com dez anos não se sabe bem o que é correto. Segundo o livro, “Um menino desta idade admitirá que nem sempre sabe o que é certo e o que é errado, então geralmente segue o que sua mãe diz. Ou então pelo que aprende na Escola Dominical, ou possivelmente pela sua própria consciência”. Por outro lado, a ideia de justiça é bastante importante.

A criança de dez anos pode choramingar ou mesmo chorar abertamente quando fica com raiva, mas é uma das últimas fases mais chorosas. Nesta idade o senso de humor não é dos melhores, tampouco as piadas.

Muitas crianças desta idade não gostam de tomar banho ou se lavar, tampouco de escovar os dentes ou pentear os cabelos. Como dito anteriormente, isso irá variar de criança para criança. Há, também, uma dificuldade de cuidar dos próprios pertences. Geralmente os quartos são bagunçados, com roupas espalhadas pelo chão (por exemplo), e ainda há a necessidade de bastante supervisão para que as rotinas diárias sejam realizadas.

Ademais, ainda não se tem muita consciência do próprio cansaço e é preciso lembrar a criança da hora de dormir. As meninas geralmente têm mais dificuldade de pegar no sono que os meninos, enquanto os meninos dormem por mais tempo.

As meninas desta idade podem mostrar sinais da puberdade. Muitas meninas, aos dez anos, já possuem informações sobre menstruação e intimidade sexual, enquanto os meninos geralmente não possuem tanto conhecimento sobre sexo. De fato, a maturidade física para se tornar um homem adulto acontece mais devagar que com as meninas.

Duas outras características marcante desta idade (e que, neste caso, podem surgir lá pelos oito anos) são o esquecimento e a inquietação. É frequente que a criança tenha dificuldade para se aquietar, se sentar, se focar. É irreal achar que uma criança nesta faixa etária poderá se sentar para ler e escrever o dia todo como um adulto.

De fato, outro problema que pode surgir é querer que a criança potencialize suas atividades acadêmicas, pois agora a criança parece bem mais maduras do que antes. É preciso tomar cuidado para não esquecer que nesta idade as crianças ainda estão no coração da infância e que a forma de pensamento racional ainda não chegou de fato. É preciso continuar a passar os assuntos de maneira mais concreta e menos abstrata.

Assim, é necessário lembrar sempre que as crianças de dez anos não são adultas e precisam de muito movimento e de muito tempo para liberar sua energia. Algumas formas de fazer isso são: passar tempo na natureza, jogos na vizinhança, esportes menos organizados e em família (tais como trilhas, patinação, esqui, natação, escalada, etc.), muitas pausas para se movimentar na escola, muitas chances para se movimentar e colocar a mão na massa (desenhar, modelar, fazer mapas, pintar, etc.).

Outro ponto importante (mas que não é muito popular entre as famílias em geral), é que a mídia e as telas devem ser limitadas nesta idade. Há muitas outras coisas que as crianças desta idade precisam experimentar na vida e sua inquietação é um sinal desta necessidade.

O esquecimento também é algo que os pais das crianças de dez anos reclamam muito (e a partir dos oito anos de forma geral). Você pode pedir para uma criança dessa idade fazer algo e ela vai esquecer em pouco tempo. Uma das formas de trabalhar isso é pelo ritmo. É útil seguir uma ordem determinada de atividades pela manhã, como levantar, tomar café, trocar de roupa, escovar os cabelos e os dentes e forrar a cama. Porém, é importante escolher uma ordem de agir que funcione para a criança. Por exemplo, se a criança acorda sempre como muita fome, leve isso em conta, pois não vai funcionar pedir que ela forre a cama antes de comer.  Outro quesito importante é decidir quais serão as consequências em relação ao esquecimento ou mesmo à “enrolação” da criança quanto às suas responsabilidades e tarefas em casa. Tais consequências não precisam seguir um determinado padrão e podem variar de família para família.

A formação de hábitos também pode ajudar quanto ao esquecimento, hábitos estes que vão ajudar a construir caráter por meio da parte prática da vida. Isso leva tempo e trabalhar tudo de uma vez só pode não funcionar.  Escolha uma área específica e foque nela por 40 dias até ser absorvido pela criança. Nesta idade pode ser algo pequeno, como lavar as mãos antes do jantar (já que, como dito anteriormente, o forte não são os atos de higiene). Ou pode ser falar com educação, visto que os pais frequentemente reclamam do tom de voz das crianças nesta faixa etária.

Por vezes é preciso um pouco de estímulo. Não na forma de “propina”, mas de incentivo mesmo. Quantas vezes você já teve um dia longo e difícil e continuou a perseverar ao pensar que a noite ia sair para um jantar especial (ou algo do gênero) e isso fez o dia se tornar um pouco mais suportável? Para mim, isso é diferente de dizer “você precisa fazer isso para receber aquilo”. É apenas um incentivo de algo de bom que irá ajudar no andamento do dia. Não posso lhe dizer com que frequência oferecer um incentivo ou que tipo de incentivo deve ser, isso varia de família para família.

Em suma, os dez anos são especiais, mas ao mesmo tempo podem ser desafiadores para os pais. É preciso amor, ritmo e um pouco de paciência!


(*) Traduzido e adaptado livremente de dois textos de Carrie Dentley. Os textos originais encontram-se nos seguintes endereços: http://theparentingpassageway.com/2011/09/25/the-terrific-ten-year-old-a-developmental-view/ e http://theparentingpassageway.com/2011/05/22/restlessness-and-forgetfulness-in-the-8-10-year-old/.  Carrie Dentley é formada em jornalismo e fisioterapia, é consultora de lactação licenciada e especialista em desenvolvimento neonatal e fisioterapia pediátrica. Também cursou a formação básica em pedagogia Waldorf. É mãe de três filhos e atualmente se dedica integralmente à sua educação.

sábado, 13 de julho de 2013

Como conviver tranquilamente com uma criança de dois anos



Os dois anos são uma idade interessante, porém difícil. Como viver em paz com uma criança de dois anos?

Creio que a primeira coisa que devemos fazer é ter clareza sobre qual é nossa perspectiva a respeito de crianças pequenas e o que a disciplina significa para você e sua família. Por exemplo, exercer uma forma de disciplina mais pacífica (como apresentada aqui) lhe traz medo de que seus filhos não terão limites? Você não consegue visualizar outras ferramentas que substituam o gritar ou o castigo? Pense a respeito!

Lembre-se que as crianças pequenas não são mini-adultos que racionalizam e precisam de informação sobre tudo como nós. É preciso esforço, paciência e muita repetição para guiar uma criança! As crianças precisam ser tratadas com dignidade e respeito, calor e amor. Elas merecem isso, mesmo porque irão imitar sua forma de agir.

Como sempre, tudo começa verdadeiramente com você mesmo(a). Você deve estar o mais centrado(a) possível, pois se achar que vai perder as estribeiras todas as vezes que seu filho(a) de dois anos se descontrolar, será realmente um longo ano. Uma criança de dois anos tem um excesso completo de emoções e impulsos que elas não podem regular de forma alguma. Visualize a si mesmo(a) como uma esponja que suga todas essas emoções em excesso; sim, é exaustivo, mas faz parte de ser pai e mãe. Então parte do seu trabalho interior, que deve ser prioridade, é se fortalecer a fim de poder dar este suporte para a criança. Uma opção que funciona para algumas pessoas (no sentido de se fortalecer para poder dar apoio à criança) é realizar atividades artísticas regularmente, como pintar, desenhar ou esculpir diversas vezes por semana.

Também é essencial ter apoio de pais com opiniões parecidas sobre a criação dos filhos. Não aqueles que dirão “Meu Deus, como esse menino está lhe manipulando!”, mas sim aqueles que compreendem a natureza de uma criança de dois anos e que podem lhe ajudar numa perspectiva amorosa.

É importante saber que as crianças de dois anos têm dificuldade em compreender gestos não verbais, como por exemplo a cara feia que você faz para um mau comportamento. Na verdade a criança de dois anos, na melhor das hipóteses, sabe apenas imitar, e pode até fazer uma cara feia para você como resposta ou qualquer outra coisa que você estiver fazendo naquele momento. Afinal, eles estão lhe imitando e nem sempre fazem ideia de que você está com raiva. Às vezes a criança de dois anos até ri quando a mãe está com raiva. Isso NÃO é uma risada zombeteira ou desafiadora, mas apenas uma demonstração de que a criança sabe que alguma coisa relativa às emoções da mãe está diferente naquele momento, mas não sabe o que fazer ou como consertar. Pense nesse tipo de comportamento como uma expressão de insegurança por parte da criança e tente adequar sua reação de acordo com essa ideia.

Outra questão importante é refletir sobre sua própria postura em relação à raiva. Como você reage no calor do momento? Qual é o seu plano? Que ferramentas você pode usar para ajudar a guiar seu pequeno filho(a) ao invés de gritar e brigar?

Abaixo seguem algumas práticas e ferramentas que podem ser utilizadas para disciplinar seu filho(a) gentilmente e pacificamente (além do seu próprio trabalho interior, é claro):
  • CONEXÃO! Aprecie estar junto do seu filho(a): amamentar, dormir junto, colocar no colo, carregar num sling, brincar junto, comer junto. Se quatro anos ainda é uma boa idade para dar colo, imagine que uma criança de dois anos ainda é muito pequenina! A conexão é de extrema importância!
  • RITMO! Tenha um ritmo diário, especialmente para as horas das refeições e de descanso. E lembre-se que para a criança dormir no horário certo é preciso ter hora certa para acordar também (veja aqui um artigo sobre ritmo: http://acordagirassol.blogspot.com.br/2011/07/trazendo-ritmo-para-vida-do-bebe.html).
  • Cantar e dizer versos ao invés de comandos diretos pode ser muito eficaz. Evite fazer perguntas que você sabe, de antemão, que serão respondidas com um “NÃO!”. Cante, promova o silêncio e pare de ficar fazendo perguntas e mais perguntas (ex: “Você quer isso? Você quer aquilo?” – o melhor é guiar a criança para a ação ou dar o exemplo, como simplesmente colocar o alimento na mesa e começar a comer na frente dela na hora do lanche). E você pode demonstrar o seu amor por meio de sorrisos, carinho, abraços, risadas – não apenas palavras!
  • Falar com a criança por meio de imagens também é muito eficaz. Use a imaginação! Exemplo: “Fulano, venha até aqui pulando com um coelhinho”.
  • Em momentos de crise, tente respirar fundo algumas vezes antes de reagir. E sempre que possível use táticas de distração ou redirecionamento.
  •  Você nunca pode ter medo de pegar no braço uma criança gritando e chutando. A criança de dois anos pode, naquele momento, precisar que você gentilmente a contenha para que volte a si. E se isso não funcionar, procure não ficar tão ansioso(a) para que a criança pare. Simplesmente esteja presente e saiba que essa é uma das formas que a criança usa para colocar para fora o que para ela é, naquele momento, uma torrente de emoções. Fique calmo(a) e espere passar. É claro que é preciso intervir se o local oferece riscos à criança ou se ela está quebrando coisas, levando-a se possível a um outro local (na grama é ótimo!!).
  •  A criança dessa idade precisa passar MUITO tempo fora de casa em locais abertos onde possa se movimentar: no parquinho, na natureza, etc. Ela precisa usar sua energia, empurrar coisas, puxar, se acocorar, etc. Precisa de brincadeiras que estimulem os sentidos: água, areia, lama...
  • Não dê nenhuma escolha, ou poucas. É muito difícil para uma criança de dois anos fazer uma escolha, mesmo que mínima. Inevitavelmente ela vai querer uma coisa e depois a outra e depois vem o desespero, o escândalo! Não coloque a criança nesta situação difícil!
  •  Tente realizar seus compromissos de rua (compras e etc.) sozinho(a), se possível. Isso evita tantos problemas nessa idade!
  • Evite criar a expectativa de que o dia só será “bom” se seu filho(a) de dois anos se comportar completamente e não der nenhum “ataque”. Reformule suas expectativas e avalie o seu dia de acordo com a forma (e a calma!) como você conseguiu lidar com as situações difíceis. E, por favor, perdoe a si mesmo! Nós, como pais, estamos numa jornada que necessita de muito esforço.
  • Não espere que uma criança de dois anos saiba compartilhar bem suas coisas ou que fique calma e silenciosa enquanto seu irmãozinho mais novo cochila por duas horas, por exemplo.
  • Guie seu filho(a) de acordo com que sua família precisa como um todo.
  •  Não se sinta ofendido(a) se você não for o pai/mãe preferido(a) da semana. Não é pessoal!


Por fim, tente aproveitar essa idade! É preciosa e passa tão rápido!


Entrevista sobre a criança e o sono

As crianças precisam de mais horas de sono do que se imagina. E ele é fundamental para a saúde e o desenvolvimento.

Entrevista com o médico antroposófico Derblai Sebben 
Conversamos com o médico Derblai Sebben, que estudou Ritmos Biológicos na USP (Universidade de São Paulo) e Medicina do Sono na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), para saber quais são os principais erros que os pais cometem em relação ao sono dos filhos. Deixá-los acordados até tarde, não manter horários de rotina e supor que a criança não dorme “porque é assim mesmo” estão entre os maiores enganos. Mas o pior dos problemas é deixar a criança dormir menos do que precisa – e elas precisam de muitas horas de sono por dia. Confira.
iG: Quais os erros mais comuns que os pais cometem em relação ao sono dos filhos?
Derblai Rogério Sebben: O principal problema da vida moderna é a falta de ritmo – ou seja, a falta de rotina. A vida moderna dos pais faz com que a gente viva correndo. A pessoa acorda atrasada de manhã, corre para tomar café e passa o resto do dia ansiosa. Isso incomoda a criança facilmente. Elas sofrem com essa falta de rotina, com a vida apressada dos pais. As crianças ficam agitadas, essa falta de ritmo leva à hiperatividade da criança. E isso geralmente tem relação direta com a falta de rotina dos adultos.
As crianças precisam de ritmo. Ritmo é igual a saúde. Se você quer que alguém se desenvolva com mais saúde, a estratégia é cuidar dos ritmos.Comer na hora certa, dormir na hora certa, criar e seguir uma rotina. Se os pais não mantêm uma rotina para si, isso passa para as crianças – e elas adoecem, psicológica e fisicamente.
Outro erro comum dos pais é achar que as crianças já nascem com problemas de sono. As mães me falam: “meu filho não dorme, desde bebê ele é assim”. Nada disso! A não ser que a criança nasça com um problema neurológico mais grave, sempre explico para elas que a “programação genética” da criança é ela dormir quando o sol se põe e acordar quando o sol nasce. Muitos pais se enganam e acham que o filho tem um problema, mas é só falta de rotina.
iG: Muitos pais estabelecem uma rotina em que a criança vai dormir mais tarde porque eles chegam tarde do trabalho, e querem passar algum tempo com o filho. Como resolver este dilema? É melhor ficar sem ver os pais no dia a dia?
Derblai: Os estudos mostram que, durante o horário das 8 às 10 horas da noite, a criança se beneficia muito mais do sono do que da presença dos pais. Mas isso pode ser adaptado, claro. Se querem passar um tempo com os filhos, seria mais razoável que, ao chegar em casa, os pais tivessem uma conduta que vá tranquilizando a criança. Fazer um lanchinho leve, colocar na cama, ler uma história são opções melhores do que chegar e brincar, fazer bagunça, estimular. A criança poderia dormir às 8 ou 9, mas acaba dormindo às 10 horas da noite, porque os pais chegam e estimulam demais. As mães e os pais devem se lembrar que às 8, 9 da noite, eles próprios já estão cansados também. O melhor é que os filhos já estejam dormindo quando os pais chegam em casa, se eles chegam tarde. E, uma vez por semana, os pais podem se comprometer a chegar mais cedo e ficar com a criança antes dela dormir.
iG: Qual a importância do sono na infância?
Derblai: Até os 18, 20 anos de idade, o organismo da criança ou do adolescente está em formação. Enquanto nós, adultos, dormimos para regenerar os órgãos, a criança dorme para formá-los. Órgãos, ossos, músculos – o corpo inteiro delas está em desenvolvimento, crescimento. O principal deles é o cérebro. O sono tem participação fundamental no desenvolvimento neurológico. A criança que dorme bem forma melhor seu cérebro, o que influencia também no comportamento. Dormir bem previne o déficit de atenção e a hiperatividade.
iG: Quanto tempo de sono por dia uma criança, em cada fase, deve ter?
Derblai: Quando recém-nascido, o ideal é dormir de 15 a 18 horas por dia. Na fase de lactente, até os dois anos, a recomendação é de 13 a 15 horas. Os pré-escolares (até 5 anos) precisam de 12 a 13 horas diárias de sono. A criança em idade escolar (de 5 a 11 anos), precisam de 10 a 12 horas e o adolescente, de 9 a 10 horas.
iG: Qual a melhor hora para as crianças irem para a cama?
Derblai: Por volta das 7, 8 horas da noite, a produção do hormônio melatonina, que regula o sono, sobe – e a adrenalina desce. Esse é o horário em que é mais fácil a criança dormir. Mais fácil do que às 10 horas da noite, quando se inverte a produção.
iG: Quais os problemas que a falta de sono acarreta para as crianças?
Derblai: A criança que dorme mal pode ter problemas de imunidade – fica resfriada com mais frequência, por exemplo. Quando dormem mal, os pequenos não ficam como a gente, em ritmo lento. Eles ficam elétricos e podem ter problemas de comportamento.
iG: Quais as dicas para a hora de colocar uma criança para dormir?
Derblai: O sono é uma questão biológica. Quem dorme é o corpo, o cérebro tem que ser orientado para dormir. Como induzir o cérebro ao sono? As palavras-chave são escuro e silêncio. Esta dupla dispara a liberação da melatonina. Outras dicas práticas são ter um horário fixo e criar um ambiente apropriado para o sono. Fazer um ritual é uma boa ideia: pode acender uma velinha, deixar uma luz de abajur suave, contar uma história, fazer uma massagem – não massagem especializada, apenas um toque agradável. O importante do ritual é sua repetição. E ele deve ser bem simples. Quanto mais simples para a mãe, melhor para a criança.
iG: E o que não fazer na hora de dormir?
Derblai: Colocar para dormir com televisão ligada, DVD ou música não são atitudes recomendáveis.

domingo, 3 de julho de 2011

Trazendo ritmo para a vida do bebê

Traduzido e adaptado livremente do texto de Kristen Burgess

(http://www.christopherushomeschool.org/early-years-nurturing-young-children-at-home/the-waldorf-baby/bringing-rhythm-to-your-baby.html)

Uma vida ritmada e organizada nutre a criança, inclusive o bebê. Trazer ritmo aos dias e à vida do bebê também trará benefícios para você e para toda a família.

Uma vida com ritmo e rotina não significa seguir horários rígidos. Ritmo é algo mais natural e orgânico, que flui. É algo que ajuda a família, não algo que prende.

Se você ainda está grávida e se preparando para o nascimento do seu filho, sugiro que você se liberte de quaisquer expectativas para as primeiras semanas de vida do bebê. Esse é um momento onde você estará conhecendo o bebê e ele ou ela estará se ajustando à vida fora do seu ventre. Passe bastante tempo conversando e conectando-se com o bebê e, sempre que der, descanse o máximo possível.

Quando seu bebê tiver com duas ou mais semanas você pode começar a criar um ritmo. Na verdade, você pode começar assim que sentir que é a hora. Apenas tente não se cobrar muito cedo após o parto.

Comece criando um ritmo para guiar seu dia. Se você tem filhos mais velhos isso pode ser mais fácil, pois você provavelmente já tem horas de acordar, comer e dormir (e se não tiver, isso pode ser uma boa hora para começar!). Se esse bebê é seu primeiro, você precisará de mais disciplina. Foi bem mais difícil para eu dar um ritmo à vida do meu segundo e terceiro bebê que do primeiro.

Comece escolhendo uma hora para acordar (ou para acordar o bebê, se você quiser acordar antes), uma hora para comer (e lanchar também!) e uma hora para colocar o bebê para dormir. Esses horários não precisam ser rígidos: algo como “em torno das 8 horas” já está bom. Recomendo que você leia sobre os benefícios que dormir cedo trazem para as crianças e escolha um horário de acordo para o bebê. Para se ter uma idéia, meus filhos dormem às 7 horas!

Agora você tem um “roteiro” para começar a conviver com seu novo bebê (ou bebê mais velho!). Acorde pela manhã e se prepare para o dia. Prepare o bebê para o dia. Coma seu café da manhã enquanto amamenta. Depois você pode fazer algum serviço pela casa com o bebê num sling, dar um passeio perto de casa e então amamentar mais um pouco!

Quando você for lanchar, amamente o bebê. Seu bebê começará a associar a hora do lanche com a amamentação. Aos poucos você pode começar a acostumar o bebê a tirar um cochilo matinal logo após essa hora do lanche. Aos poucos seu bebê irá se ajustar a esse ritmo e rotina.

O mesmo acontece com o almoço. Amamente logo após o almoço ou durante o almoço. Quando tive meu segundo filho, eu colocava o almoço do primeiro e então amamentava o bebê enquanto eu almoçava. Depois eu colocava o bebê na cadeirinha para dormir enquanto ninava o mais velho no colo. Fiz o mesmo quando tive o terceiro filho.

Quando meu segundo filho era bebê ele dormia mais ou menos uma hora na cadeirinha enquanto eu e o mais velho também cochilávamos. Depois ele acordava para amamentar e dormia por mais duas horas. Sim, um cochilo de três horas! Enquanto isso, eu e o mais velho tínhamos bastante tempo juntos sozinhos enquanto o bebê dormia. Foi parecido quando veio o terceiro.

Destaco que esse deve ser um processo gradual e suave. Tenha confiança no ritmo e padrões de sua família que aos poucos o bebê entrará neste ritmo.

Carregue o bebê num sling enquanto você faz as tarefas de casa pela tarde e o tenha por perto no jantar. Seu bebê vai querer amamentar quando acordar do cochilo da tarde e no início da noite, mas tente encorajá-lo a ficar acordado nas duas horas que antecedem seu horário de dormir.

Tenha uma rotina tranqüila de preparação para o sono. Um bebê pequeno pode acordar as 16hs e ainda assim estar pronto para ir dormir às 19hs. Guardar os brinquedos juntos, fechar as cortinas, se banhar, trocar de fraldas e colocar o pijama, cantar canções de ninar – tudo isso ajudará o bebê a saber que a hora de dormir está chegando.

Balance e amamente o bebê e deite-o para dormir. Se você tem o costume de dormir com o bebê na mesma cama, você pode escolher deitar com ele até ele adormecer e depois se levantar.

Se seu bebê acordar de novo, simplesmente amamente-o e coloque o novamente na cama. Um horário de dormir cedo para o bebê dará a você um tempo para si. Você poderá tomar um banho relaxante, ter tempo com seu parceiro, ler, conversar ao telefone, ficar no computador ou apenas ter um tempo para si em silêncio.

Esse começo de rotina suave irá se desenvolver à medida que seu bebê cresce. Mantenha esse “roteiro” básico e outros ritmos irão se desenvolver com o tempo. É claro que há dias quando você vai precisar passar o dia “dançando” com o bebê nos braços quando ele tiver mais abusado ou noites quando o bebê não vai querer dormir, mas tudo isso faz parte. Porém, ter um ritmo geral será muito bom para todos.

Também lhe encorajo a ficar o máximo de tempo em casa com seu bebê! Programe suas tarefas fora de casa para um único dia da semana, ou dois no máximo, e honre sua rotina com o bebê. Honre os cochilos da tarde e, em especial, a hora de dormir. Esse pode ser um sacrifício da sua parte, mas é melhor para o bebê (e será durante muitos anos!). Felicidade para um bebê é estar com você, ficar junto de você num sling enquanto você faz suas tarefas e caminhar pelo vizinhança e pela natureza. A simplicidade da vida e a paz de ter um ritmo é um presente que ganhamos quando temos ter filhos.

Encorajo-lhe a cobrir a televisão durante o dia com um tecido bonito. Seu bebê não precisa dela e seus filhos pequenos não precisam dela. Ao invés disso, mostre sua casa e sua vizinhança ao bebeê. Inclua o bebê na sua vida, não ocupe a vida dele com uma TV.

Cante para seu bebê ao longo do dia. Seu bebê irá amar independente se sua voz é boa ou não! Você também poderá recitar versos infantis simples e associá-los aos diferentes momentos e tarefas do dia. Por exemplo: canções ou versos para tomar banho, lanchar, guardar os brinquedos, etc.

Conheça bem o “roteiro” e vá guiando seu bebê suavemente dentro da sua rotina diária. Honre o ritmo do seu bebê. Cante e recite. Deixe que o bebê veja a vida da casa e a natureza de dentro do sling. Lembre que é normal que alguns dias sejam difíceis. E confie que esse ritmo irá nutrir e apoiar seu bebê e você também!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Conectando-se com nossos filhos

Por Carrie Dentley, baseado no capítulo 14 do livro “Hold On to Your Kids”; tradução livre (ver texto original em http://theparentingpassageway.com/2011/02/01/hold-on-to-your-kidscollecting-our-children)

Conectar-se ao nosso eu interior e aos nossos filhos, em conjunto com dar limites, é o que faz a disciplina funcionar. O autor começa este capítulo dizendo: “No topo da nossa agenda devemos colocar a tarefa de conectar-se com nossos filhos, de colocá-los sob nossas asas, de fazer com que eles queiram pertencer a nós e estar conosco. Não podemos mais supor, como os pais de antigamente podiam, que uma forte ligação inicial entre nós e nossos filhos irá durar o quanto precisarmos. Não importa o quão grande for nosso amor ou quão bem intencionada for nossa criação, sob as circunstâncias atuais temos menos margem para errar que todos os pais do passado. Enfrentamos competição demais”.

Então a questão fica sendo como conectamos DIARIAMENTE e REPETIDAMENTE com nossos filhos. Isso se encaixa bem com o estilo Waldorf devido ao uso extenso dos ritmos.

Os autores resumem quatro passos para tal conexão:

1. Entre no espaço da criança de modo amigável. Com crianças mais velhas, muitas vezes o único contato direto com os pais é quando algo está errado. O livro cita que criança que está aprendendo a andar experiencia, em média, uma proibição a cada nove minutos, que a redireciona para outro local. Então, quanto a criança cresce, os pais passam menos e menos tempo com ela no sentido de ficar apenas juntos, e o tempo que passam juntos é, quase sempre, para corrigir comportamentos errados.

Precisamos reconectar com nossos filhos após cada separação. A separação inclui não apenas a escola ou quando os pais vão para o trabalho, mas também depois que a criança acaba uma brincadeira, uma leitura, uma tarefa de casa, um filme ou ao acordar. Como isso é feito varia de família para família, mas é possível começar cumprimentando a criança que retorna de algum local ou de uma atividade. Faça o mesmo com os filhos dos seus amigos e com as crianças da vizinhança.

Acredito, também, que diminuir a quantidade de atividades que a família desenvolve fora de casa e dar maior importância aos rituais diários como cozinhar e comer juntos dá uma base sólida para os rituais de conexão.

2. Forneça algo para a criança poder se ligar a você emocionalmente: calor, calor emocional, atenção, interesse, ouvir a criança ou dar um abraço, beijo ou afago; o que cada criança precisar! “A criança precisa saber que é querida, especial, significativa, valorizada, apreciada, que sentem saudades dela, que gostam de sua companhia. Para uma criança receber completamente um convite à conexão (e acreditar nele e mantê-lo em sua mente mesmo com a distância física) é preciso que este seja genuíno e incondicional”.

Isso é muito importante mesmo quando você não tiver com vontade, pois seu filho está se desenvolvendo, o que nem sempre é fácil. Conecte-se com esta criança, ame-a! Guia-a, mantendo os limites, pois é você que é o adulto maduro com experiência de vida. Se você tiver a atitude de que irá criar esta criança para ser um bom ser humano, independente de qualquer coisa, então você se comprometerá para tal tarefa.

Os autores escrevem ainda que “Não podemos cultivar a conexão cedendo a todas as demandas da criança, seja por afeição, reconhecimento ou significância. Porém, podemos arruinar o relacionamento retirando da criança o que ela realmente precisa quando está expressando, genuinamente, alguma necessidade; responder à criança sob demanda não deve ser confundido com o enriquecimento da relação. Esse passo da dança não é uma resposta à criança. É o ato de conceber um relacionamento, repetidamente”.

Para crianças que têm uma ligação insegura com os pais, os autores observam que isso pode ser exaustivo para os mesmos e que “o problema é que a atenção dada [neste caso] nunca é suficiente: deixa uma incerteza de que os pais estão atendendo apenas às demandas, e não voluntariamente se doando para a criança. Então as demandas começam a aumentar mais e mais, e a necessidade emocional nunca se satisfaz. A solução é viver o momento, convidar o contato exatamente quando a criança não está pedindo.” Acredito que isso é especialmente eficaz em situações onde a filhos de mais de um casamento.

3. Convide a dependência. Os autores fazem uma comparação com o processo de namoro, quando um está continuamente se oferecendo a ajudar com uma atitude educada e feliz. “Você consegue imaginar o que aconteceria se, ao cortejar alguém, a mensagem enviada fosse: 'Não espere que eu lhe ajude com nada que eu ache que você pode ou deve fazer sozinho?'”

A dependência traz a independência no momento certo. Forçar a separação da criança causa pânico e faz com que ela “grude”.

Porém, o que os autores faltaram ressaltar aqui foi que, dentro do desenvolvimento normal da criança, isso aparece quando as crianças estão, de forma subconsciente, experimentando com o poder, com seus quereres e com as necessidades do seu desenvolvimento. Alguns pais precisam deixar com que seus filhos se tornem mais dependentes deles e precisam aprender a respeitar as indicações dos filhos mais velhos que que ainda não estão prontos para se separar. Porém, também há casos onde a criança está pronta para se separar e necessita disso, mas os pais não conseguem reconhecer que a criança precisa de apoio para fazer as coisas longe dos pais. Acredito que, dependendo da idade da criança, esta pode ser uma linha tênue onde os pais devem prestar atenção de forma muito consciente.

4. Aja como o compasso da criança. Precisamos guiar nossos filhos. Os autores escrevem: “Coisas mudaram demais para que nós sejamos guias. Não leva muito tempo para as crianças saberem mais que nós sobre o mundo dos computadores e da Internet, sobre seus jogos e brinquedos (...) Porém, apesar do fato do nosso mundo ter mudado (ou, mais corretamente, devido a este fato) está mais importante que nunca ter confiança em nós mesmos e assumir nossa posição como o compasso da vida dos nossos filhos”.

Os autores também listam várias frases que podem ajudar a orientar uma criança, tais como “Deixe-me mostrar como isso funciona”, “Você deve pedir ajuda a esta pessoa”, “Você tem o precisa para fazer (tal coisa)...”, etc.

Estas são coisas que vejo na vida real: mostrar a seu filho trabalho REAL e como fazer as coisas, primeiro por imitação (até os 7 anos) e depois ajudando-o a realizar trabalho real sozinho; ajudá-lo a encontrar seus pontos fortes e aumentar sua auto-confiança para enfrentar o que lhe desafia; aterrando seu filho na vida espiritual do FAZER; orientando-o, pelas suas ações, pela forma como você percebe o mundo e pela forma como você trata a família e as pessoas fora da família. Seja, você mesmo, um ser humano correto: se sua vida pessoal não estiver alinhada com a forma que você deseja que seu filho aja, é melhor que você mude para mostrar o significado de um ser humano moral. Na criação de um filho, não pode haver desconexões.

Acima de tudo, o compasso da criança inclui colocar limites de forma amorosa, com as ferramentas certas e na hora certa. Para todas as idades, é essencial controlar sua própria raiva e usar sua maturidade para ser adulto o suficiente para guiar a criança. Para todas as idades, mostrar à criança COMO make restitution é muito importante, é chave. Para as crianças com menos de sete anos, existe a imitação, usar as mãos para auxiliar de forma gentil, cantar, criar um ritmo, usar a distração, contar histórias, falar usando imagens e usar o movimento para ajudar a criança. Para crianças de cinco anos e meio ou seis, você pode usar frases curtas e diretas sobre o que precisa acontecer ou não. Para crianças de sete a oito, é possível usar uma explanação breve, com o cuidado de não estimular demais com as palavras. Para aquelas com mais de nove anos, uma conexão sincera ou uma conversa para resolver o problema.

Espero que este texto tenha ajudado você, como pai ou mãe, a unir as peças da conexão e dos limites para conseguir guiar seus filhos de forma gentil e amorosa, de uma forma madura onde você é o adulto, a realidade.

É bom ressaltar que tudo isso retrata uma situação ideal; porém, não somos perfeitos e TODOS nós passamos por momentos como pais onde nos perguntamos se estamos fazendo a coisa certa, se estamos estragando os nossos filhos, etc. Sim, todos nós já passamos por isso! Mas crie seus filhos com confiança e alegria; com conexões e limites para você e sua família você conseguirá criar seus filhos para serem adultos saudáveis!

terça-feira, 22 de março de 2011

Cultivando a gratidão nas crianças

Adaptado e traduzido livremente do texto de Carrie Dentley: http://theparentingpassageway.com/2010/11/14/back-to-basics-cultivating-gratitude-in-children/

Uma das reclamações que ouço frequentemente dos pais é que seus filhos parecem não apreciar as coisas nem saber expressar, prontamente, sua gratidão. Pais tem me contado histórias sobre como seus filhos pequenos só querem, querem, querem e querem, e como eles sentem raiva e tristeza se perguntando onde foi que erraram, pois seus filhos nunca estão satisfeitos.

Isso é difícil, e para começar é bom observar como você mesmo se sente sobre as emoções negativas que seu filho(a) expressa de forma geral. Estas emoções fazem com que você se depare com suas próprias questões? Comumente, quando uma criança faz algo que realmente nos irrita, existe uma razão do nosso próprio passado, da nossa própria “bagagem”, o que torna a questão uma espécie de gatilho.

Como você mesmo modela a gratidão na sua família? Existe uma atitude geral de contentamento ou você está sempre procurando por mais ou por coisas maiores e/ou melhores? Você é uma pessoa que reclama muito?

O que você faz todos os dias para ATIVAMENTE ser um modelo de conduta quanto à gratidão? Você agradece antes das refeiçoes? Você ora ou diz obrigado pelo que tem? Você reconta as coisas boas pelas quais você está grato e feliz antes de dormir?

Como é seu ambiente? É simples ou cheio que COISAS? Quantos brinquedos tem seu filho(a)? Pode ser que seja demais, mesmo que sejam apenas brinquedos “naturais”.

Qual a idade do seu filho(a)? Dos três aos seis anos (ou mesmo antes!!) pode ser difícil levá-los a lojas, pois eles podem não compreender que você não tem condições de comprar X, Y ou Z, então aconselho sair para as compras sozinho.

Você consegue apenas “refletir” os desejos dos seus filhos? Por exemplo, quando eles querem algo, responder “Eu também gostaria de algo assim” ou “É verdade, isso seria divertido”. Com frases simples assim você faz com que seu filho(a) saiba que foi ouvido, sem ter que entrar nos méritos do que ele(a) quer. O que eles querem pode ser, então, anotado numa lista de aniversário ou de Natal.

Que histórias você pode contar para trazer um componente de cura a toda esta questão? Existem algumas boas opções entre os contos dos Irmãos Grimm.

Você faz parte de uma comunidade espiritual que pode realizar atos de caridade? Até mesmo as crianças pequenas, dentro de um contexto de uma comunidade forte e acolhedora, pode realizar atividades de caridade (como participar na coleta de brinquedos e comida, por exemplo). Lembre-se que a questão não é falar sobre isso, mas FAZER.

Como está o nível de atividade física da criança? Como ela ajuda em casa e contribui para o bem estar do lar e da família? Eu acredito que crianças que tem tempo para querer, querer e querer provavelmente não estão usando sua energia física o suficiente! Também reflita sobre o calor que esta criança vem recebendo, a quantidade de escolhas que é forçada a fazer e o ritmo do seu lar.